domingo, 1 de junho de 2014

Os Zang-Fu



Na concepção da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) os órgãos e vísceras possuem aspecto energético, funcional e orgânico. Esse conceito difere da visão Ocidental, a qual não considera o aspecto do enérgico dos órgãos. Os Zang (ou órgãos) são representados pelo Coração, Pulmão, Fígado, Baço-Pâncreas e Rins, enquanto os Fu (ou vísceras) são representados pelo Estômago, Intestino Grosso, Intestino Delgado, Bexiga, Vesícula Biliar e Triplo Aquecedor, sendo este último um envoltório altamente energético que tem a finalidade de promover a atividades de todos os órgãos internos (BRAGA; YAMAMURA, 2008; NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011).
Embora os Zang Fu tenham sido traduzidos com nomes coincidentes aos de órgãos da medicina ocidental, suas funções para a MTC são diferentes. Enquanto na medicina ocidental as funções dos órgãos são definidas em termos fisiológicos, bioquímicos e biofísicos, na MTC essas funções são definidas em termos de substâncias vitais e suas relações com os Cinco Elementos (PEREIRA, 2005).
Assim, os Zang Fu estão regidos pela lei dos Cinco Movimentos (veja postagem relacionada). Quando ocorre um desequilíbrio, por exemplo, no ciclo de dominação entre Água e Madeira, isso leva a um desequilíbrio energético que pode se manifestar com uma doença do Fígado do sistema Zang Fu. Devido a isso, para um tratamento adequado pela acupuntura, é preciso chegar à origem das alterações energéticas nos Zang Fu, os quais promovem os sintomas das doenças, e que serão harmonizados pela inserção de agulhas em pontos específicos dos Meridianos em desequilíbrio. Isso mostra que a MTC tem uma visão de um mecanismo de auto-regulação no funcionamento do organismo (BRAGA; YAMAMURA, 2008; PEREIRA, 2005).
Assim, as funções fisiológicas do corpo são moduladas por 12 Meridianos distribuídos bilateralmente (6 Yin e 6 Yang), e por dois canais adicionais, sendo um na linha média frontal e outro na linha média dorsal. Circulando dentro desses canais há o “Qi” que regula a função corporal. Quando o fluxo do “Qi” é bloqueado, dor e doenças ocorrem. Através da inserção de agulhas e sua manipulação apropriada, pode-se desbloquear o canal, restabelecendo-se o fluxo normal de “Qi”, aliviando a dor (NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011).
Devido à importância do aspecto energético Qi para a MTC, a acupuntura foi por muito tempo considerada misticismo pela ciência Ocidental. O conceito de Meridiano como canais por onde corre o Qi (energia vital) nunca pôde ser comprovado pela ciência Ocidental, não havendo equivalentes anatômicos para esses canais, o que aumentou o cetismo em relação à acupuntura (PEREIRA, 2005). 
Contudo, com a popularização de sua prática na Europa e nos Estados Unidos, a qual parecia trazer benefícios reais para as pessoas que se submetiam a ela, surgiu a necessidade de se verificar a eficácia da acupuntura e seus mecanismos de ação por métodos científicos. Essas pesquisas começaram na década de 1970 e atualmente há um grande número de trabalhos científicos publicados na área que evidenciam sua eficácia. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde publicou um guia recomendando o uso da acupuntura na cura ou alívio de 64 diferentes sintomas (LIN; CHEN, 2011).

Referências Bibliográficas


BRAGA, M. V. D.; YAMAMURA, Y. Teoria dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras). In: NAKANO, M. A. Y; YAMAMURA, Y. Livro dourado da acupuntura em dermatologia e estética. 2ª. Edição, São Paulo, Center AO, 2008, p. 24-25.
LIN; J.; CHEN, Y. The mechanistic studies of acupuncture and moxibustion in Taiwan. Chinese Journal of Integrative Medicine, v. 17, n. 3, p. 177-186, 2011. 
NGHI; V. N.; RECOURS-NGUYEN, C. Medicina Tradicional Chinesa: acupuntura, moxabustão e massagens. São Paulo, Roca, 2011, 677 p.
PEREIRA, F. A. O. Evidências científicas da acupuntura. Perspectivas, v. 4, n.7, p. 88-105, 2005.
 

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