Na
concepção da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) os órgãos e vísceras possuem aspecto energético, funcional e
orgânico. Esse conceito difere da visão Ocidental, a qual não considera o
aspecto do enérgico dos órgãos. Os Zang (ou órgãos) são representados pelo
Coração, Pulmão, Fígado, Baço-Pâncreas e Rins, enquanto os Fu (ou vísceras) são
representados pelo Estômago, Intestino Grosso, Intestino Delgado, Bexiga,
Vesícula Biliar e Triplo Aquecedor, sendo este último um envoltório altamente
energético que tem a finalidade de promover a atividades de todos os órgãos
internos (BRAGA; YAMAMURA, 2008; NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011).
Embora
os Zang Fu tenham sido traduzidos com nomes coincidentes aos de órgãos da
medicina ocidental, suas funções para a MTC são diferentes. Enquanto na
medicina ocidental as funções dos órgãos são definidas em termos fisiológicos,
bioquímicos e biofísicos, na MTC essas funções são definidas em termos de
substâncias vitais e suas relações com os Cinco Elementos (PEREIRA, 2005).
Assim,
os Zang Fu estão regidos pela lei dos Cinco Movimentos (veja postagem relacionada). Quando ocorre um desequilíbrio, por exemplo, no ciclo de dominação entre Água e Madeira, isso leva
a um desequilíbrio energético que pode se manifestar com uma doença do Fígado
do sistema Zang Fu. Devido a isso, para um tratamento adequado pela acupuntura,
é preciso chegar à origem das alterações energéticas nos Zang Fu, os quais
promovem os sintomas das doenças, e que serão harmonizados pela inserção de
agulhas em pontos específicos dos Meridianos em desequilíbrio. Isso mostra que
a MTC tem uma visão de um mecanismo de auto-regulação no funcionamento do
organismo (BRAGA; YAMAMURA, 2008; PEREIRA, 2005).
Assim,
as funções fisiológicas do corpo são moduladas por 12 Meridianos distribuídos
bilateralmente (6 Yin e 6 Yang), e por dois canais adicionais, sendo um na
linha média frontal e outro na linha média dorsal. Circulando dentro desses
canais há o “Qi” que regula a função corporal. Quando o fluxo do “Qi” é
bloqueado, dor e doenças ocorrem. Através da inserção de agulhas e sua
manipulação apropriada, pode-se desbloquear o canal, restabelecendo-se o fluxo
normal de “Qi”, aliviando a dor (NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011).
Devido
à importância do aspecto energético Qi para a MTC, a acupuntura foi por muito tempo
considerada misticismo pela ciência Ocidental. O conceito de Meridiano como
canais por onde corre o Qi (energia vital) nunca pôde ser comprovado pela
ciência Ocidental, não havendo equivalentes anatômicos para esses canais, o que
aumentou o cetismo em relação à acupuntura (PEREIRA, 2005).
Contudo, com a
popularização de sua prática na Europa e nos Estados Unidos, a qual parecia
trazer benefícios reais para as pessoas que se submetiam a ela, surgiu a
necessidade de se verificar a eficácia da acupuntura e seus mecanismos de ação
por métodos científicos. Essas pesquisas começaram na década de 1970 e
atualmente há um grande número de trabalhos científicos publicados na área que
evidenciam sua eficácia. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde
publicou um guia recomendando o uso da acupuntura na cura ou alívio de 64
diferentes sintomas (LIN; CHEN, 2011).
Referências Bibliográficas
BRAGA, M. V. D.;
YAMAMURA, Y. Teoria dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras). In: NAKANO, M. A. Y;
YAMAMURA, Y. Livro dourado da acupuntura
em dermatologia e estética. 2ª.
Edição, São Paulo, Center AO, 2008, p. 24-25.
LIN; J.; CHEN, Y. The mechanistic studies of acupuncture and moxibustion
in Taiwan. Chinese Journal of Integrative Medicine, v. 17, n. 3, p. 177-186, 2011.
NGHI; V. N.;
RECOURS-NGUYEN, C. Medicina Tradicional
Chinesa: acupuntura, moxabustão e massagens. São Paulo, Roca, 2011, 677 p.
PEREIRA,
F. A. O. Evidências científicas da acupuntura. Perspectivas, v. 4, n.7, p. 88-105, 2005.
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