domingo, 1 de junho de 2014

Evidências científicas sobre a eficácia da acupuntura



Há várias evidências científicas de que a acupuntura melhora ou atenua diversas disfunções clinicas. Serão apresentados aqui apenas alguns exemplos.
A acupuntura tem sido utilizada com sucesso para aliviar a dor aguda pós-cirúrgica, bem como evitar náuseas e vômitos pós-cirurgicos (HAN, 2011).
Tem sido demonstrado cientificamente que a acupuntura pode melhorar de forma eficiente os casos de dores agudas e crônicas. Em um estudo realizado na Alemanha com 1.116 pacientes, foi demonstrado que a acupuntura foi duas vezes mais eficiente no tratamento de dor crônica nas costas do que a terapia convencional (fisioterapia ou uso de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios) (HAAK et al., 2007; HAN, 2011).
Outros estudos demonstraram a eficiência da acupuntura no tratamento de dores crônica no joelho, no ombro, pescoço, osteoartrite e dor de dente aguda (O’REGAN; FILSHIE, 2010).
Foi comprovado que acupuntura é eficiente no tratamento de disfunções menstruais e de infertilidade. Em um estudo, 11 mulheres anovulatórias (9 com síndrome do ovário policístico) receberam eletroacupuntura de baixa frequência (3 dias por ciclo, durante 13 ciclos menstruais) para induzir a ovulação. A ovulação foi induzida em 6 dos 13 ciclos menstruais (CHEN; YU, 1991)
Em um estudo com acupuntura auricular (uma vez por semana durante três meses), foi demonstrado que o efeito da acupuntura foi similar ao tratamento hormonal para a infertilidade em mulheres com distúrbios hormonais (n = 45 mulheres por grupo). A acupuntura resultou em taxas de gravidez equivalentes às induzidas por tratamento hormonal, mas com menos efeitos colaterais e abortos espontâneos (GERHARD; POSTNEEK, 1992).
Em outro estudo, 12 de 24 mulheres com disfunções ovulatórias tratadas com acupuntura manual (média de 30 tratamentos) mostraram melhoras marcantes na menstruação e na temperatura corporal basal bifásica por mais de dois ciclos ou ficaram grávidas. As mulheres apresentaram melhora nos efeitos regulatórios dos hormônios luteinizantes e folículo estimulante, bem como do estradiol, indicando a influência do eixo hipotálamo-pituitária-gonodal (XIAOMING et al., 1993).
Os efeitos benéficos da acupuntura na oncologia clínica para o alívio dos sintomas causados pelos tratamentos do câncer, incluindo dor, náuseas, vômitos, fadiga, xerostomia e insônia vem sendo pesquisados (O’ REGAN; FILSHIE, 2010; STONE; JOHNSTONE, 2010).
Foi demonstrado por vários autores que a estimulação do ponto Circulação-Sexo 6 (CS6 – Neiguan) foi útil no tratamento de náusea e vômitos induzidos pela quimioterapia. Estudos clínicos mostraram que a acupuntura foi mais efetiva nesse tratamento do que as drogas convencionais utilizadas. O tratamento em acupuntura em pacientes com xerostomia devido à radioterapia aumentou o fluxo de sangue das glândulas parótidas, aumentou a salivação e estimulou a regeneração das glândulas danificadas pela radioterapia (O’ REGAN; FILSHIE, 2010).

Referências Bibliográficas

HAAK, M.; MÜLLER, H.; BRITTINGER, C. et al. German acupuncture trials (GERAC) for chronic low back pain. Archives of International Medicine, v. 167, n. 17, p. 1892-1898, 2007.
O’ REGAN, D.; FILSHIE, J. Acupuncture and cancer. Autonomic neuroscience: Basic and Clinical, v. 157, p. 96-100, 2010.
HAN, J. Acupuncture analgesia: areas of consensus and controversy. Pain, v. 152, p. S41-S48, 2011.
CHEN, B. Y.; YU, J. Relationship between blood radioimmunoreactive betaendorphin and hand skin temperature during the electro-acupuncture induction of ovulation. Acupunct Electrother. Research, v. 16, p. 1-5, 1991.
GERHARD, I.; POSTNEEK, F. Auricular acupuncture in the treatment of female infertility. Gynecological Endocrinology, v. 6, p. 171-181, 1992.
XIAOMING, M.O.; DING, L.I.; YUNXING, P.U. et al. Clinical studies on the mechanism for acupuncture stimulation of ovulation. Journal of Traditional Chinese Medicine, vol. 13, p. 115-119. 1993.
 



 

Os Zang-Fu



Na concepção da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) os órgãos e vísceras possuem aspecto energético, funcional e orgânico. Esse conceito difere da visão Ocidental, a qual não considera o aspecto do enérgico dos órgãos. Os Zang (ou órgãos) são representados pelo Coração, Pulmão, Fígado, Baço-Pâncreas e Rins, enquanto os Fu (ou vísceras) são representados pelo Estômago, Intestino Grosso, Intestino Delgado, Bexiga, Vesícula Biliar e Triplo Aquecedor, sendo este último um envoltório altamente energético que tem a finalidade de promover a atividades de todos os órgãos internos (BRAGA; YAMAMURA, 2008; NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011).
Embora os Zang Fu tenham sido traduzidos com nomes coincidentes aos de órgãos da medicina ocidental, suas funções para a MTC são diferentes. Enquanto na medicina ocidental as funções dos órgãos são definidas em termos fisiológicos, bioquímicos e biofísicos, na MTC essas funções são definidas em termos de substâncias vitais e suas relações com os Cinco Elementos (PEREIRA, 2005).
Assim, os Zang Fu estão regidos pela lei dos Cinco Movimentos (veja postagem relacionada). Quando ocorre um desequilíbrio, por exemplo, no ciclo de dominação entre Água e Madeira, isso leva a um desequilíbrio energético que pode se manifestar com uma doença do Fígado do sistema Zang Fu. Devido a isso, para um tratamento adequado pela acupuntura, é preciso chegar à origem das alterações energéticas nos Zang Fu, os quais promovem os sintomas das doenças, e que serão harmonizados pela inserção de agulhas em pontos específicos dos Meridianos em desequilíbrio. Isso mostra que a MTC tem uma visão de um mecanismo de auto-regulação no funcionamento do organismo (BRAGA; YAMAMURA, 2008; PEREIRA, 2005).
Assim, as funções fisiológicas do corpo são moduladas por 12 Meridianos distribuídos bilateralmente (6 Yin e 6 Yang), e por dois canais adicionais, sendo um na linha média frontal e outro na linha média dorsal. Circulando dentro desses canais há o “Qi” que regula a função corporal. Quando o fluxo do “Qi” é bloqueado, dor e doenças ocorrem. Através da inserção de agulhas e sua manipulação apropriada, pode-se desbloquear o canal, restabelecendo-se o fluxo normal de “Qi”, aliviando a dor (NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011).
Devido à importância do aspecto energético Qi para a MTC, a acupuntura foi por muito tempo considerada misticismo pela ciência Ocidental. O conceito de Meridiano como canais por onde corre o Qi (energia vital) nunca pôde ser comprovado pela ciência Ocidental, não havendo equivalentes anatômicos para esses canais, o que aumentou o cetismo em relação à acupuntura (PEREIRA, 2005). 
Contudo, com a popularização de sua prática na Europa e nos Estados Unidos, a qual parecia trazer benefícios reais para as pessoas que se submetiam a ela, surgiu a necessidade de se verificar a eficácia da acupuntura e seus mecanismos de ação por métodos científicos. Essas pesquisas começaram na década de 1970 e atualmente há um grande número de trabalhos científicos publicados na área que evidenciam sua eficácia. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde publicou um guia recomendando o uso da acupuntura na cura ou alívio de 64 diferentes sintomas (LIN; CHEN, 2011).

Referências Bibliográficas


BRAGA, M. V. D.; YAMAMURA, Y. Teoria dos Zang Fu (Órgãos e Vísceras). In: NAKANO, M. A. Y; YAMAMURA, Y. Livro dourado da acupuntura em dermatologia e estética. 2ª. Edição, São Paulo, Center AO, 2008, p. 24-25.
LIN; J.; CHEN, Y. The mechanistic studies of acupuncture and moxibustion in Taiwan. Chinese Journal of Integrative Medicine, v. 17, n. 3, p. 177-186, 2011. 
NGHI; V. N.; RECOURS-NGUYEN, C. Medicina Tradicional Chinesa: acupuntura, moxabustão e massagens. São Paulo, Roca, 2011, 677 p.
PEREIRA, F. A. O. Evidências científicas da acupuntura. Perspectivas, v. 4, n.7, p. 88-105, 2005.
 

A teoria dos Cinco Movimentos



A Teoria dos Cinco Movimentos quando aplicada à terapêutica  da Medicina Tradicional Chinesa explica a forma pela qual o homem matem-se em equilíbrio. Essa teoria explica os processos pelos quais os fenômenos naturais geram e dominam uns aos outros e como esse ciclo de geração e de dominância influência o equilíbrio energético e por consequência a saúde. A Teoria dos Cinco Movimentos baseia-se nas propriedades fundamentais dos Cinco Elementos (NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011; YAMAMURA, 2008), que são:
- Água: representa os fenômenos naturais que se caracterizam por retração, profundidade, frio, queda, eliminação e está relacionado aos meridianos do rim e da bexiga (YAMAMURA, 2008);
- Madeira: representa os aspectos de crescimento, movimento, florescimento, síntese e está relacionado aos meridianos do fígado e da vesícula biliar (YAMAMURA, 2008);
- Fogo: representa os fenômenos naturais que se caracterizam por ascensão, desenvolvimento, expansão, atividade e está relacionado aos meridianos do coração, do intestino delgado, do triplo aquecedor e do pericárdio (circulação-sexo) (YAMAMURA, 2008);
- Terra: representa os fenômenos naturais que se traduzem por transformações e mudanças, estando relacionado aos meridianos do estômago e do baço-pâncreas (YAMAMURA, 2008);
- Metal: caracteriza os processos naturais de purificação, seleção, análise, limpeza e está relacionado aos meridianos do pulmão e do intestino grosso (YAMAMURA, 2008).
Estes elementos relacionam-se entre si de modo que o movimento de um elemento gera o elemento seguinte e domina o elemento subsequente. Com isso, no ciclo de geração, o Movimento Água gera o Movimento Madeira, o Movimento Madeira gera o Movimento Fogo, o Movimento Fogo gera o Movimento Terra, o Movimento Terra gera o Movimento Metal e o Movimento Metal gera o Movimento Água. No ciclo de dominância, o Movimento Água domina o Movimento Fogo, o Movimento Madeira domina o Movimento Terra, e assim sucessivamente (YAMAMURA, 2008; NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011).
O equilíbrio do ciclo dos Cinco Movimentos, em seus aspectos de geração e dominância, em harmonia representa o próprio equilíbrio entre o Yin e o Yang. Assim, o desequilíbrio desse ciclo leva à doença, sendo função da acupuntura harmonizar esse ciclo para a saúde seja restaurada (YAMAMURA, 2008; NGHI; RECOURS-NGUYEN, 2011).

Referências Bibliográficas


NGHI; V. N.; RECOURS-NGUYEN, C. Medicina Tradicional Chinesa: acupuntura, moxabustão e massagens. São Paulo, Roca, 2011, 677 p. 

YAMAMURA, Y. Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa. In: NAKANO, M. A. Y; YAMAMURA, Y. Livro dourado da acupuntura em dermatologia e estética. 2ª. Edição, São Paulo, Center AO, 2008, p. 17-19, 2008.